quarta-feira, 21 de setembro de 2011

...Me ajude a ser Feliz... (Rubem Alves)


Estou com medo de que as crianças me chamem de mentiroso. Pois eu disse que o negócio dos professores é ensinar a felicidade. Acontece que eu não conheço nenhuma criança que concorde com isto. Se elas já tivessem aprendido as lições da política, me acusariam de porta voz da classe dominante. Pois, como todos sabem, mas ninguém tem coragem de dizer, toda escola tem uma classe dominante e uma classe dominada: a primeira, formada por professores e administradores, e que detém o monopólio do saber, e a segunda, formada pelos alunos, que detém o monopólio da ignorância, e que deve submeter o seu comportamento e o seu pensamento aos seus superiores, se desejam passar de ano.


Basta contemplar os olhos amedrontados das crianças e os seus rostos cheios de ansiedade para compreender que a escola lhes traz sofrimento. O meu palpite é que, se se fizer uma pesquisa entre as crianças e os adolescentes sobre as suas experiências de alegria na escola, eles terão muito que falar sobre a amizade e o companheirismo entre eles, mas pouquíssimas serão as referências à alegria de estudar, compreender e aprender.

A classe dominante argumentará que o testemunho dos alunos não deve ser levado em consideração. Eles não sabem, ainda… Quem sabe são os professores e os administradores.
Acontece que as crianças não estão sozinhas neste julgamento. Eu mesmo só me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo, ginásio e científico. A primeira, uma gorda e maternal senhora, professora do curso de admissão, tratava-nos a todos como filhos. Com ela era como se todos fôssemos uma grande família. O outro, professor de Literatura, foi a primeira pessoa a me introduzir nas delícias da leitura. Ele falava sobre os grandes clássicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer. Quanto aos outros, a minha impressão era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cujas finalidade e utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar. Compreende-se, portanto, que entre as nossas maiores alegrias estava a notícia de que o professor estava doente e não poderia dar a aula. E até mesmo uma dor de barriga ou um resfriado era motivo de alegria, quando a doença nos dava uma desculpa aceitável para não ir à escola.

Não me espanto, portanto, que tenha aprendido tão pouco na escola. O que aprendi foi fora dela e contra ela. Jorge Luís Borges passou por experiência semelhante. Declarou que estudou a vida inteira, menos nos anos em que esteve na escola. Era, de fato, difícil amar as disciplinas representadas por rostos e vozes que não queriam ser amados.

(...)

Os métodos clássicos de tortura escolar como a palmatória e a vara já foram abolidos. Mas poderá haver sofrimento maior para uma criança ou um adolescente que ser forçado a mover-se numa floresta de informações que ele não consegue compreender, e que nenhuma relação parecem ter com sua vida?
Compreende-se que, com o passar do tempo a inteligência se encolha por medo e horror diante dos desafios intelectuais., e que o aluno passe a se considerar como um burro. Quando a verdade é outra: a sua inteligência foi intimidada pelos professores e, por isto, ficou paralisada.

Os técnicos em educação desenvolveram métodos de avaliar a aprendizagem e, a partir dos seus resultados, classificam os alunos. Mas ninguém jamais pensou em avaliar a alegria dos estudantes – mesmo porque não há métodos objetivos para tal. Porque a alegria é uma condição interior, uma experiência de riqueza e de liberdade de pensamentos e sentimentos. A educação, fascinada pelo conhecimento do mundo, esqueceu-se de que sua vocação é despertar o potencial único que jaz adormecido em cada estudante. Daí o paradoxo com que sempre nos defrontamos: quanto maior o conhecimento, menor a sabedoria. T. S. Eliot fazia esta terrível pergunta, que deveria ser motivo de meditação para todos os professores: “Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?”

Vai aqui este pedido aos professores, pedido de alguém que sofre ao ver o rosto aflito das crianças, dos adolescentes: lembrem-se de que vocês são pastores da alegria, e que a sua responsabilidade primeira é definida por um rosto que lhes faz um pedido: “Por favor, me ajude a ser feliz…”

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Pedagogia da Alma


Defendo uma pedagogia da sensibilidade,
o exercício da alteridade,
 o intercâmbio de olhares,
de concepções de mundo,
 a pedagogia da liberdade,
do corpo, da alma, do sentimento, da vida.
Sou a favor de uma pedagogia da completude,
 da realização humana.
Moacir Gadotti, pedagogo e filósofo,
 apresenta alguns princípios fundamentais
 para uma educação comprometida
com a formação de pessoas humanas.
Educar para pensar globalmente,
educar os sentimentos,
para a identidade terrena e consciência planetária,
para a compreensão, simplicidade e quietude.
O acúmulo de informações é inútil,
é preciso saber pensar a realidade,
saber aprender e saber fazer.
 Devemos educar para a convivência,
 para a busca do sentido da vida,
para a consciência ambiental.
 Precisamos educar para a ética,
para as relações humanas solidárias.
 Precisamos educar para a formação de novos valores
 como a paz, a simplicidade, o autoconhecimento,
a quietude, o saber escutar, o saber conviver.
Precisamos educar também o corpo. Educar a alma...

Luciana Marinho

Another Again (John Legend)

Já ouvi tanto essa música...incansavelmente, repetidas vezes!!

domingo, 18 de setembro de 2011

Africa Mamma




Sem Palavras

Speecheless...Música belíssima de Michael Jackson ...Gosto de muitas outras, quase todas elas...essa, no entanto, é especial...a letra, a sua voz tão suave.... Eis um trecho que gosto muito: "Quando estou com você, estou sob a luz, onde não posso ser encontrado ; É como se eu estivesse parado em um lugar chamado solo sagrado." Não sei se refere-se a um grande amor, a Deus...é lindo, de qualquer forma!!




A Copa da Vida (Rick Martin)



Já fui fã (enlouquecida) na adolescência...fase de poucos discernimentos...rsrsrs....Contudo, confesso que ainda hoje Rick fascina-me...Admiro a sua consciência corporal, a sensualidade... Ô desperdícioo!!

Maria, Maria


Esta música sempre habitou o meu imaginário...transportou-me para outros lugares...devaneios bons...

Ler Pouco (Rubem Alves)




Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: “ Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?” E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.

Notei, à medida em que envelhecia, uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte têm a ver com experiências infantis.

Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: “ Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…” E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu “maturidade”, essa qualidade tão valorizada, como “ um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…”


 Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: “Nos Estados Unidos há casas de dez andares.” E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: “Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?” Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: “Você me ama?” (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim… ). “Vou querer ler você de novo?” Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.


Essa coisa de “amor universal aos livros” fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que “a palavra grega que designa o “sábio” se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…” E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: “Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suina.”

O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suina, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser “sim” ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.


Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: “No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?” A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: “Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…” Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…


Rubem Alves

With or Without You (U2)

Gosto das letras, do som, da voz de Bono ...tudo!!

Tempo é (muito mais que ) Dinheiro

(...) De fato, atualmente parece que estamos sempre em débito em relação à quantidade de tempo que temos disponível. Direcionamos boa parte do nosso tempo e da nossa vida na busca de segurança material. Mas a noção de segurança é relativa. (...)


Em certos momentos da vida, então, posso me dar conta de que por mais que a minha conta bancária esteja positiva e eu tenha conquistado muitas coisas, ainda não me sinto seguro. E em troca, a minha conta de tempo parece estar sempre negativa.


Hoje em dia somos educados e estimulados a ser bons profissionais, a ganhar dinheiro, a consumir, a poupar, a garantir a segurança material, a competir. Porém, não somos ensinados a usar o nosso tempo para sermos bons pais, bons filhos, bons cidadãos. Todos nós carregamos internamente o sentimento de inadequação e de insegurança. (...)



O que realmente nos preenche?(...) Temos cada vez mais dificuldade por falta de tempo, mas especialmente de espaço interno para apreciar coisas simples da vida. A infância dos filhos, a velhice dos pais, o companheirismo dos irmãos, a companhia dos amigos, o pôr do sol, o nascer do sol. A nossa ansiedade com o futuro, a insegurança financeira, o medo de perder o que se adquiriu e o desejo de adquirir mais, faz com que apliquemos o nosso tempo de maneira equivocada. (...)



Existe uma diferença fundamental entre executar ações e buscar conquistas movido por uma questão interna, seja medo ou insegurança; e executar ações e buscar conquistas com uma atitude interna de apreciação, trazida pela compreensão do seu papel no mundo e pela descoberta de um espaço de conforto em si mesmo. E é apenas dedicando tempo a si mesmo, ao autoconhecimento que descobrimos isso. (...)


Deveríamos ver o tempo como maior de todos os bens. Assim, escolheríamos melhor com quem, com o que e onde iríamos gastar o nosso tempo. (...) Usar o tempo com inteligência é viver a vida, o presente, inteligentemente. Isso não quer dizer que devamos negligenciar o futuro. Quer dizer que nas nossas contabilidades diárias, deveríamos colocar o tempo como bem mais precioso.(...)


Tempo junto, tempo de conversa, tempo de fazer nada, apenas de presença, mesmo que esta presença seja tratar com atenção dando tempo a nós mesmos, dedicando-nos ao autoconhecimento, e também às pessoas ao nosso redor (...)

Texto adaptado de Tales Nunes (Estudante de Vedanta e Mestre em Antropologia). Cadernos de Yoga nº 31.

sábado, 17 de setembro de 2011

Ciclovias & Sustentabilidade

Vejo as práticas de sustentabilidade como algo que deve, obrigatoriamente, fazer parte das nossas atitudes cotidianas e não como uma alternativa, como algo que escolhemos fazer. Precisamos nos conscientizar de que somos um grande sistema ou ecossistema, onde tudo está interligado, intimamente ligado, como numa rede, numa teia de aranha.




  Consciência ambiental vai muito além de não jogar lixo na rua, de economizar água, da reciclagem. Há tantas coisas que fazem parte de uma prática consciente, coisas que fogem completamente da experiência de muitos países, inclusive o nosso. Desenvolver a sustentabilidade não é tão simples como muitos pensam, exige que olhemos tudo de uma forma completamente diferente, até oposta ao que estávamos acostumados  a olhar.


A consciência ambiental parte do princípio de que todos os seres merecem ser felizes. Isso significa dizer que os homens não possuem nenhum privilégio em relação a outras formas de vida. Todos nós merecemos ser felizes e só seremos juntos, quando houver harmonia completa entre todas as formas de vida. Pelo amor altruísta a todos os seres ou pelo amor egoísta a nós mesmos, precisamos, com urgência, transformar as nossas práticas e os nossos olhares.

 
  Outro dia, vi um exemplo disso em um pequeno documentário que falava sobre as ciclovias em países desenvolvidos como Copenhague, na Dinamarca, Amsterdã, na Holanda e Bogotá, na Colômbia ( única região da América Latina). As ciclovias fazem parte das tecnologias limpas, ou seja, que não poluem o meio ambiente. Interessante perceber que muitas pessoas utilizam a bicicleta como transporte para ir à faculdade, escola, trabalho, fazer passeios, enfim, em praticamente todos os seus deslocamentos diários. Isso independentemente da sua classe social, professores e alunos, chefes ou subordinados, todos utilizam a bicicleta.


 Isso só foi possível não só pela mudança de concepção dos moradores, mas pela organização de uma estrutura adequada para o deslocamento seguro dos ciclistas: as ciclovias. Essa preocupação em desenvolver espaços ora exclusivos, ora prioritários para os ciclista faz parte do processo de implantação das práticas ecologicamente responsáveis. Além disso, as altas taxas sobre o deslocamento dos automóveis também contribuem para que as pessoas optem pela bike. Os moradores de Copenhague, Amsterdã e Bogotá utilizam os carros apenas para distâncias muito grandes.


 Claro que isso não aconteceu naturalmente. A Dinamarca, por exemplo, enfrentou uma séria crise de escassez de petróleo e teve que buscar alternativas: as ciclovias são resultado disso. A crise também fez com que a população sentisse a necessidade de rever sua relação com a natureza, com o meio ambiente. Hoje, esses países, desenvolvem outras práticas sustentáveis como reaproveitamento da água e uso das tecnologias limpas em outros setores.

No Brasil, já existem iniciativas para a construção de ciclovias. No entanto, é preciso mudar a concepção já consolidada de que a bicicleta não possui o status do automóvel. É preciso transformar valores, compreender que a qualidade de vida é o que realmente importa. A diferença entre países desenvolvidos e de 3º mundo é que, os primeiros já vivenciaram os benefícios e mazelas do desenvolvimento predatório, quase chegaram ao limite. Nós ainda alimentamos a ilusão de que o desenvolvimento tecnológico, com toda a comodidade e excessos, nos tornará mais felizes.

Enquanto nós estamos indo, os países desenvolvidos estão voltando. Estão à nossa frente porque além de possuírem mais acesso ás informações e, portanto, maior consciência ambiental, possuem também as tecnologias mais avançadas que, embora pareça ser contraditório , serão instrumentos fundamentais para uma vida sustentável.


Estou retomando os meus passeios de bike, depois de algum tempo sedentária. Confesso que a falta de espaços para os ciclistas dificulta muito o deslocamento, não dá para disputar com os automóveis.      No entanto, é tão boa a vista das pessoas, das paisagens. Dá para ver melhor tudo, além de colocar o corpo em movimento, realizar uma atividade que beneficia o corpo, a mente e o espírito.
        
         Luciana Marinho

O Mundo

Lenine, Moska, Zeca Baleiro, Chico César e Suzano juntos! Imperdível!!

Contos de Fada à La Shrek

Não gosto dos contos clássicos
Com as suas características tradicionais,
Tudo perfeitinho
Belas princesas, príncipes galantes,
Fadas madrinhas
Felizes para sempre
Numa vidinha igualzinha,
De mentirinha
Prefiro os contos a La Shrek
Mais reais e com a mesma magia,
Com o mesmo barulho de sonho
Com a mesma beleza, leveza
Com a alegria
Que vem de dentro, de verdade


Não gosto dos contos clássicos
Que associam a felicidade à beleza,
Á juventude, À perfeição,
À riqueza, à ilusão
Bonitinhos, pequenininhos,
Cenários artificialmente criados



Prefiro um conto de fadas a La Shrek,
Imperfeito
Cenários reais, cheio de defeitos
Uma história profunda, grande
Não gosto dos contos clássicos
Rasos, vazios, lineares


Prefiro um conto a La Shrek,
Verdadeiro e único
Complexo, fundo
Eterno, alimentado pela essência,
Pelo que há dentro de cada um,
Sem a superficialidade dos contos tradicionais
Enfim, não gosto dos contos de fada clássicos
Porque eles não falam de mim,
Não dialogam comigo
Prefiro os contos á La Shrek
Porque neles eu me vejo,
Encontro-me...
Luciana Marinho 


Corinne Bailey

As Sete Leis da Sincronicidade


1-Meu espírito é um campo de possibilidades infinitas que conecta tudo o mais.

2. Meu dialogo interno reflete meu poder interno. O dialogo interno das pessoas auto- realizadas pode ser descrito assim: é imune a críticas; não tem apego aos resultados; não tem interesse em obter poder sobre os outros; não tem medo. Isso porque o ponto de referência é interno, não externo.

3.
Minhas intenções tem poder infinito de organização. Se minha intenção vem do nível do silêncio, do espírito, ela traz em si os mecanismos para se concretizar.

4.
Relacionamentos são a coisa mais importante na minha vida. E alimentar os relacionamentos é tudo o que importa. As relações são cármicas e quem nós amamos ou odiamos é o espelho de nós mesmos: queremos mais daquelas qualidades que vemos em quem amamos e menos daquelas que identificamos em quem odiamos.

5. Eu sei como atravessar turbulências emocionais. Para chegar ao espírito é preciso ter sobriedade. Não dá para nutrir sentimentos como hostilidade, ciúme, medo, culpa, depressão. Essas são emoções tóxicas. Importante: onde há prazer, há a semente da dor, e vice-versa. O segredo é o movimento: não ficar preso na dor, nem no prazer (que então vira vício). Não se deve reprimir ou evitar a dor, mas tomar responsabilidade sobre ela.

6.
Eu abraço o feminino e o masculino em mim. Esta é a dança cósmica, acontecendo no meu próprio eu. A energia masculina: poder, conquista, decisão. A energia feminina: beleza, intuição, cuidado, afeto, sabedoria. Num nível mais profundo, a energia masculina cria, destrói, renova. A energia feminina é puro silêncio, pura intenção, pura sabedoria.

7.
Estou alerta para a conspirações das improbabilidades. Tudo o que me acontece de diferente na vida é carmico. É, portanto, um sinal de que posso aprender alguma coisa com aquela experiência. Em toda adversidade há a semente da oportunidade.

domingo, 4 de setembro de 2011

Eu sei, mas não devia



A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.


A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.


A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.


A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.


A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

Marina Colasanti

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

Disponível em: http://www.releituras.com/mcolasanti_eusei.asp

A Pedagogia dos Caracóis

Os caracóis são moluscos lerdos. Andam muito, muito devagar. Ninguém tomaria os caracóis como exemplos. Embora suas conchas sejam belas e construídas com precisão matemática, o que chama a atenção de quem os observa é sua pachorra. Caracóis não têm pressa. Falta-lhes dinamismo, virtude essencial àqueles que vivem no mundo moderno. Quem anda devagar fica para trás. Quem iria imaginar que um educador, ao observar um caracol, tivesse uma inspiração pedagógica? Pois foi o que encontrei numa revista italiana, Cem Mondialità. A fotografia que ilustra o referido artigo é a de um menino, rosto apoiado na carteira, a observar tranqüilamente um caracol que se arrasta sobre a tampa da carteira. E o título do artigo é A pedagogia do caracol.


 

 


Caracol tem pedagogia a ensinar? O autor conta o sucedido com uma menininha que, ao voltar para a casa, queixou-se: "Mamãe, os professores dizem 'É preciso andar rápido, nada de vagareza, para frente, para frente. Mamãe, onde é a frente?". E aí ele passa a falar sobre a virtude pedagógica da vagareza. Pode ser que "chegar na frente" não seja tão importante assim! Quem sabe o "estar indo" seja mais educativo que chegar! No "estar indo" aprende-se um jeito de ser. Nietzsche se ria dos turistas que subiam as montanhas como animais, estúpidos e suados.



 Não haviam aprendido que há vistas maravilhosas no caminho que sobe... Riobaldo acrescentaria: "O real não está nem na saída e nem na chegada; ele se dispõe para a gente é no meio da travessia". O adágio da Sonata ao Luar tocado "presto" seria um horror. As notas seriam as mesmas. Mas a beleza não se encontra no presto; ela está é na vagareza do "adágio". Ele aconselha os professores a estarem com seus alunos no ritmo "adágio". Sem pressa.


A lentidão é virtude a ser aprendida num mundo em que a vida corre ao ritmo das máquinas. Gastar tempo conversando com os alunos. Saber sobre as suas vidas, os seus sonhos. Que importa que o programa fique atrasado? A vida é vagarosa. Os processos vitais são vagarosos. Quando a vida se apressa é porque algo não vai bem.

 

 


Adrenalina no sangue, o coração disparado em fibrilação, diarréia. Observar as nuvens. Conversar sobre as suas formas. A observação das nuvens faz os pensamentos ficarem tranqüilos. As notícias dos jornais são escritas depressa. Por isso têm curta duração. Mas a poesia se escreve devagar. Por isso ela não envelhece. Inventaram essa monstruosidade chamada leitura dinâmica. Ela pressupõe que um texto é feito com poucas idéias centrais, tudo o mais sendo encheção de lingüiça. A técnica da leitura dinâmica é ir direto às idéias centrais, desprezando o resto como lixo.

 


Já imaginaram sexo dinâmico, que dispensa os "entretantos" e vai direto ao "finalmente"? Essa é uma maneira canina de fazer amor. Mas não é isso a que os jovens são obrigados quando, ao se preparar para o vestibular, se põem a ler "resumos" de obras literárias? Um resumo é o resultado escrito de uma leitura dinâmica. É preciso ler tendo a lesma como modelo... Devagar. Por causa do prazer. O prazer anda devagar. Você leu esse artigo dinamicamente ou lesmicamente?

Rubem Alves