sábado, 26 de fevereiro de 2011

O principezinho e a Menina das pétalas de Girassol

 
Conheci  “o Pequeno Príncipe” ainda muito criança. Acho que, por isso, são vagas as lembranças . Não sabia contar a estória, talvez porque não tivesse lido. No entanto, eu sabia que tinha algo mágico ali.
Aquele principezinho habitava o meu imaginário, parecia que ele existia mesmo. Lembro-me que sempre olhava as primeiras páginas, talvez para me certificar de que ele ainda estava ali.
Achava aqueles desenhos estranhos, nunca havia visto aquelas coisas. Um menino que vivia sozinho em outro planeta? Um planeta ameaçado por baobás? O que era isso, baobá? Só descobri há pouco tempo....
Recordo-me dos seus desenhos, da cobra engolindo o elefante. Tudo aquilo me fascinava...Olhava aqueles desenhos e divagava... Tinha uma vontade de ir naquele planeta, uma vontade imensa de conhecer aquele principezinho....
Enfim, o tempo passou, não sei quanto tempo, mas reencontrei o principezinho. Em um novo contexto, com um novo olhar, um olhar de adulto, talvez...Um adulto resgatando a sua infância, o principezinho perdido da sua história, na sua memória...
Um contexto novo,mas igualmente mágico e fascinante... De fato, conheci a história do principezinho e achei a sua vida sozinha, triste, mas bela, profunda...
 Me apaixonei pelo principezinho,encantou-me despretensiosamente... Me apaixonei pela raposa também, igualmente encantadora...e sinto saudades deles.
Sei que ainda não vi muita coisa e que cada releitura, é um encontro novo, um olhar diferente. Nunca vi algo tão simples ( não digo simplório) e tão bonito.
Outro dia, no entanto, conheci  a história da menina que comia pétalas de girassol. Tinha um amigo pássaro que botava ovos em outro planeta...Senti uma emoção tão funda...
Acho que a menina é amiga do principezinho...O pássaro, da raposa? Não sei, ainda vou reencontrá-los. Por enquanto, espero, impacientemente...

É o que me interessa...

Cadernos Negros

Dançando Negro
Quando eu danço
Atabaques excitados
O meu corpo se esvaindo
Em desejos de espaço,
A minha pele negra
Dominando o cosmo,
Envolvendo o infinito, o som
Criando outros êxtases...
(...)
Quando eu danço há infusão de elementos,
Sou razão!
O meu corpo não é objeto,
Sou revolução!
Éle Semog

O Vento
Disperso-me por aí
Feito brisa
Depois
Me rejunto e chego como ventania
Derrubo coisas
Varro a casa
Safadamente
Devasso a monotonia
Talvez eu seja um vento mau
Talvez injusto pra quem tinha olhos postos no horizonte
Não me desespero
E não quero
Ser feliz de outro jeito


Landê Onawale

Cadernos Negros: Os Melhores Poemas.São Paulo: Quilombhoje,1998.

Entre Olhares

A raposa e o principezinho


E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia- disse a raposa.
- Bom dia- respondeu educadamente o pequeno príncipe, que, olhando a sua volta, nada viu.
- Eu estou aqui debaixo da macieira- disse a voz
- Quem és tu?- perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa- disse a raposa.
- Vem brincar comigo- propôs ele. – Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo- disse a raposa. – Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpe- disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”?
- Tu não és daqui- disse a raposa. – Que procuras?
- Procuro os homens – disse a raposa- têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
- Não- disse o príncipe. – Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?
- É algo quase sempre esquecido- disse a raposa. – Significa “criar laços”...
- Criar laços?
- Exatamente- disse a raposa. – Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender- disse o pequeno príncipe. - Existe uma flor...eu creio que ela me cativou...
- É possível- disse a raposa. – Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! Não foi na Terra- disse o principezinho.
(...)
A raposa retomou o seu raciocínio.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E isso me incomoda um pouco. Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulhinho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fossem música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
- Por favor...cativa-me! Disse ela.
(...)
- Que é preciso fazer? – perguntou o pequeno príncipe.
- è preciso ser paciente- respondeu a raposa.- Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto....
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria siso melhor se voltasses à mesma hora- disse a raposa.- Se tu vens , por exemplo, às quatro da tarde, desde ás três eu começarei a ser feliz. Às quatro, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração...é preciso que haja um ritual.
- Que é um “ritual”?- perguntou o principezinho.
- É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias, uma hora das outras horas. (...)
Assim, o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar!
- A culpa é tua- disse o principezinho.- Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis- disse a raposa. (...)
- Então, não terás ganhado nada!
- Terei, sim- disse a raposa- por causa da cor do trigo.
SAINT-EXUPÉRY. Antoine de. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 2009.



Riso, subversivo?

 Nunca pensei que o riso pudesse ter sido subversivo em algum momento da História. Achei que fosse invenção (instigante!) de Humberto Eco, autor do livro “O nome da rosa”. No livro e no filme de mesmo nome, o enredo se desenrola em torno do mistério de um livro proibido. O livro era considerado subversivo para a Igreja Católica porque falava do riso.
Outro dia, descobri que isso foi um fato, realidade.  Segundo Mikhail Bakhtin (1987), “O riso era condenado pelo cristianismo oficial na Idade Média. O tom sério caracterizava a cultura medieval oficial, sendo a única forma de expressar a verdade, o bem e tudo o que era importante. (...)
Sei que naquela época, a Igreja Católica cometeu abusos e absurdos ,mas a proibição explícita do riso me deixou perplexa. Bem, se o riso era proibido nos contextos formais e oficiais, nos espaços populares, ele foi “legalizado”. Essa criminalização do riso possibilitou o surgimento, ainda na Idade Média, das “festas dos loucos”, momentos em que o riso “corria solto” e o espiritual dava lugar ao profano.

Vidinha meia boca

Quero uma vidinha meia boca
Uma vida oca
Só meu ego e meus ecos
Quero uma vidinha meia boca
Nada louca, muito sã
Sem sobressaltos
Sem altos e baixos
Quero uma vidinha meia boca
Todinha minha, no meu passo
Reta  que eu mesma traço
Quero uma vidinha assim
Inerte, sempre sim
 Mas essa vidinha assim:
Meia boca, quase louca
Totalmente oca,não cabe a mim,
Não cabem os meus desassossegos
Os meus ais, meus medos
Nessa vidinha banguela
Não cabe o meu sorriso inteiro
Não caibo nela
Nessa vidinha meia boca
Não cabe a minha alma muito louca (e pouco sã)
Não cabem meus dias, minhas cores
Minhas alegrias e minhas dores 
Essa vidinha não vale um vintém
Não cabe todo mundo
Só cabe ninguém
Agora, eu me pergunto:
Alguém quer essa vidinha meia boca?
Quem?
  Luciana Marinho

Diogo Nogueira

Mário Quintana



Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos,

nem sujeitos a ataques súbitos de levitação.

O de que eles mais gostam é estar em silêncio -

um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios.

Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.

Disponível em: <http://www.fabiorocha.com.br/mario.htm>

Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

Monólogo de Orpheu

Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços!
Te enrrustiste
Em minha vida;
E cada hora que passa
É mais por te amar;
A hora derrama
O seu óleo de amor,
Em mim, amada...
E sabes de uma coisa?...
Cada vez
Que o sofrimento vem,
Essa saudade
De estar perto,
Se longe,
Ou estar mais perto
Se perto – que é que eu sei!
Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu.
Orpheu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem – nada tem importância
Quando tu chegas com esta charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo!
E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei.
Ah, minha Eurídice,
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim!
Sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada,
Sou pedra rolada.
Orpheu menos Eurídice...
Coisa incompreensível.
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida!
Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada!
Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orpheu:
Orpheu,
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como vento à flor
Despetala as mulheres – que ele,
Orpheu ficasse rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro cantante
Vai tua vida que estarei contigo!

Tracy Chapman

Queria ser Rocha


Queria ser Rocha
Sólido, impenetrável
Maciço, inteiro
Coisa firme, inabalável
Porto, cais
Imutável, coisa única
Rocha
Queria ser Rocha
Equilíbrio absoluto,
Sempre firme
Rocha não dói, não sangra
Não se angustia
Não chora, não se inquieta
Não se move
Não se enche, nem se esvazia
Não se entristece, nem se alegra
Não se perde e nem se acha
Não dá e não ganha
Não enlouquece, não sai do lugar
Não brota, não floresce
Não diminui, nem se expande
Não conhece o abismo, não aprende a voar
Tem calma, mas não tem alma
Ser Rocha
É vazio, sem graça
Carapaça que nos impede
Inércia que nos paralisa
Quero ser Coisa Múltipla
Multifacetada
Quero ser Rocha e Poeira
Quero ser Nuvem, Precipitação
Raio e Tempestade
Quero ser Dispersão
Quero ser  Dúvida, Movimento
Desatino, Loucura
Quero ser Dor e  Prazer
Quero ser Tufão e Calmaria
Quero ser Tudo e Nada
Quero Inteiro , Partes
Quero ser Alma, Corpo
Quero ser Hades e Céu
Quero ser Paradoxo
Quero a Vida, toda ela...
Luciana Marinho

Deixo assim ficar...


Talvez outra...
 Não a outra almejada,
A outra no meio do caminho ainda, em transição...
Transição- processo, mudança...
Em transe, não- coisa estática, inerte, adormecida-
Outra, sim,mais distante do caos, mais próxima do cais
Menos densa, menos cinza; Mais chuva, mais cores
Mais próxima do céu?Acho que não...
Talvez não queira distância, nem proximidade.
Ver de longe, fora da inconstância, fora do hades...
Ganhos ou perdas? Inércia ou movimento?
Verdades ou mentiras?Realidade ou fantasia?
Caos ou cais?
Agora, calmaria, mansidão.
Quietude ...
Deixo ir, se quer ir; Deixo ficar, se assim o quiser
(...)
Luciana Marinho

Leituras: Do mundo e da palavra

  
Infelizmente, a leitura ainda é vista como atividade exclusiva dos intelectuais. No entanto, ela faz parte da formação humana. Não falo do processo de decodificação de palavras, da leitura que se restringe ao universo da escrita.
Falo da leitura que antecede a escola e nos acompanha a vida inteira: A leitura do mundo. Concepção defendida pelo grande educador Paulo Freire que afirmava que a leitura do mundo precede a da palavra.
As palavras não possuem existência própria, são representações de coisas, lugares, enfim, são representações do nosso mundo. A linguagem é a grande ferramenta simbólica que cria a nossa realidade.
Não faz sentido ler a palavra pela palavra, dissociada de contexto, desprovida de significado. A palavra “alegria” nos remete aos momentos felizes e sensações positivas; assim como a palavra “ morte” nos causa temor porque está associada à dor e à perda.
As palavras sozinhas são vazias, elas só existem e ganham sentido porque significam a nossa vida. É preciso estabelecer relações entre o que se lê e o que se vive, de forma indissociada.
A leitura decodificadora é inócua, sem sentido. A leitura a que me refiro não se restringe aos intelectuais ou alfabetizados. Ler a palavra exige uma leitura do mundo, a compreensão das relações de sentido que se estabelecem entre o símbolo e os seus significados.
Ler é muito mais do que acumular palavras, é enxergar as coisas que elas representam; é compreender a realidade criada por elas.
 Luciana Marinho

Não dá para ser sempre cais

 Acho que os extremos são sempre posturas arriscadas demais. O caminho do meio é mais prudente, mais sensato. No entanto, é impossível chegar ao ponto de equilíbrio sem enfrentar a tempestade, sem descer ao hades, sem entrar no caos.
         Não dá para ser constantemente cais, porto, terra firme. Há momentos em que é preciso desequilibrar-se, sair do eixo, perder o norte, virar de cabeça para baixo, pelo avesso. Só assim, saímos de nós mesmos, nos distanciamos para ver melhor o que somos ,o que nos tornamos.
 O cais permanente é seguro,é mansidão, quietude, mas é sempre igual, sempre noite, sempre cinza. É certeza, mas tristeza. O cais é âncora, nos protege e nos impede. Protege-nos de sangrar, de doer, de angustiar; impede-nos de mudar, de querer, de sentir, de viver plenamente.
É preciso unir as duas pontas, juntar paradoxos: o eu e a sombra;bem e mal;defeito e virtude;masculino e feminino; o cais e o caos; a fantasia e a realidade; o prazer e a dor; a alegria e a tristeza; o hades e o éden. Talvez, precise de um pouco de caos para despertar. Talvez não o queira, pelo medo de perder o controle, de ter que mudar, sair da inércia cômoda que impede um universo de possibilidades. Nem só o caos, nem apenas o cais, mas o movimento. Sem apego e sem aversão, mas equilíbrio.
Talvez seja o momento de distanciar-se do cais e aproximar-se do caos. Ser menos denso, e mais chuva. Menos cinza, e mais cores. Mais distante do céu e mais próximo do hades. Mais fantasia, menos realidade.Afinal, são faces da mesma moeda.
A unidade e identidade dependem dessa junção. Sem isso, não há inteiro, mas fragmentos. Não tenha medo do caos, ele é criativo e transformador. O caos sempre vem... talvez seja suave como uma brisa ou forte como a tempestade...mas sempre vem...a transformação é potencial, não inerente ...cabe a você fazer do caos metamorfose.
Luciana Marinho

Cidade dos Poetas

Não sei quantas almas tenho (Pessoa)

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem  alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo:  "Fui  eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu

O "eu" e o "outro"

Precisamos amar e sermos amados. O amor nos mobiliza, torna tudo mais leve, resgata o nosso prazer de viver, nos deixa mais sensíveis, enfim, nos torna mais humanos.
 É através dele que vivenciamos experiências fundamentais para o nosso crescimento e aperfeiçoamento pessoal e espiritual.
Há pessoas únicas...pessoas que enchem a nossa vida de cores, todas elas, com as quais temos completa sintonia, conexão...e nessas pessoas nos vemos, encontramos uma parte da nossa alma ou diversas partes dela, muitas vezes nos encontramos inteiramente.
E são muitas essas pessoas que guardam uma parte da nossa alma: amores, amigos, familiares, desconhecidos. O amor manifesta-se de diversas formas.
O outro nos possibilita um olhar sobre nós mesmos, nos revela o que está guardado em nós, multiplica as nossas possibilidades, amplia as nossas concepções,nos faz crescer...
Como diz o trecho de uma música de Adriana Calcanhoto: “Eu não sou eu, nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio...”
O outro possibilita o caminho, o trânsito do eu ...e nesse movimento construímos a nossa história, a nossa trajetória, a nossa essência, aquilo que perpetua, que fica eternamente...
 Luciana Marinho

Inanna, o Mito



Inanna-Ishtar leva-nos de volta a um tempo onde o Feminino era ativo, dinâmico, poderoso, com os dons da paixão, do riso, e da graça envolvente.Inanna -uma metáfora para o Divino na Matéria .

Inanna/Ishtar é alegria, conexão, paixão, entusiasmo e força, a guerreira que mantém sua posição com integridade, sempre como não-vítima.Ela representa a força e o encantamento da existência sob a forma feminina é auto-centrada, auto-definida e independente.

 

Inana/Ishtar é definida por ser a Grande Deusa do Amor e da Guerra, por ser a Amada e a Guia, Ponte para os Deuses, e não por ser uma Deusa-Mãe cheia de dádivas de proteção, que tudo dá e que tudo perdoa de seus filhos.

As deusas dinâmicas e não maternais aparecem quando estamos no limiar do portal que nos levará à maturidade e plenitude, quando nos sentimos aptos para tomar as rédeas de nossas vidas com nossas próprias mãos.

Ela é a Deusa na sociedade e na família, mas também faz suas próprias leis, quando considera mais apropriado.

Inanna compartilha com os Grandes Deuses da Mesopotâmia o aspecto cósmico que não está presente nas outras Grandes Deusas. Inanna/Ishtar é a Estrela Matutina e Vespertina.

Toda personalidade forte não hesitará em enfrentar obstáculos e ultrapassá-los com prazer. Os padrões de uma Deusa Guerreira são altos, e Ela não irá tolerar um padrão mais baixo do que o que sabe que pode e merece atingir.

 

Mas Inanna/Ishtar não se sente limitada pelo fato de ser mulher...Cruzar as barreiras do gênero sexual significa "transcender situações de controle histórico" e "buscar a completude inicial, a fonte do sagrado e poder descrita como o Casamento Sagrado da Alma Humana. Isto significa ser uma mulher masculina sem perder a feminilidade e ser um homem feminino sem perder sua masculinidade...

Inanna tem a existência de uma mulher que está livre para seguir suas próprias verdades.

  By Lishtar (Dr. Roseane Lopes) poster presented in the 47e Rencontre Assyriologique - Helsinki, Finland - July 2nd to 6th 2001.