sábado, 26 de fevereiro de 2011

Monólogo de Orpheu

Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços!
Te enrrustiste
Em minha vida;
E cada hora que passa
É mais por te amar;
A hora derrama
O seu óleo de amor,
Em mim, amada...
E sabes de uma coisa?...
Cada vez
Que o sofrimento vem,
Essa saudade
De estar perto,
Se longe,
Ou estar mais perto
Se perto – que é que eu sei!
Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu.
Orpheu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem – nada tem importância
Quando tu chegas com esta charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo!
E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei.
Ah, minha Eurídice,
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim!
Sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada,
Sou pedra rolada.
Orpheu menos Eurídice...
Coisa incompreensível.
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida!
Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada!
Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orpheu:
Orpheu,
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como vento à flor
Despetala as mulheres – que ele,
Orpheu ficasse rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro cantante
Vai tua vida que estarei contigo!

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